22.2.14

Designer as a Firm

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Há uns tempos atrás numa aula de Crítica de Design foi proposto pelo professor Mário Moura debater-mos três diferentes pontos de vista do papel do designer: freelancer, funcionário, firma.

O freelancer seria o designer livre de horários pré-definidos e de códigos ou regras de grupo, preferencialmente jovem, mais activo, disponível e flexível para trabalhos exteriores. É tido como um designer com elevada criatividade, individualismo e carga autoral, já que se trata do indivíduo tornado na sua própria empresa, com uma identidade própria e que é contactado pelo seu historial e portfólio. É quase uma espécie de artista liberal que os clientes procuram para que a sua instituição se mostre através da identidade própria desse designer.

No caso do designer enquanto funcionário falamos deste como uma peça na máquina particular de determinada empresa. É um trabalhador normalmente fixo, que desenvolve trabalho exclusivamente para a empresa da qual faz parte. Este está portanto inteiramente focado na construção do historial e identidade da própria empresa graças a sua proximidade com o patrão e com os métodos deste (ainda que muitas vezes por intermédio de outros diversos agentes).

Quanto ao designer como firma trata-se de um designer que chefia ou faz parte de um grupo/gabinete/atelier de designers que é independente das instituições para as quais trabalha podendo ter maiores ou menores relações de familiaridade com algumas. A liberdade criativa e metodológica está ao dispor de um grupo especializado na área que pode representar um designer ou um conjunto de regras e ideias que unem o grupo.

Cada uma destas categorias de designers por sua vez caracterizam e encerram formas particulares de ver o design. O primeiro trata-o como uma área de criação independente e auto-suficiente que se realiza consoante os objectivos, interesses e ideologias do criador, que expõem as mais valias do seu trabalho e identidade para os mais diferentes fins.

A segunda trata a área como algo inteiramente dependente e ao serviço de diferentes formas de comunicação. O design é a transcrição gráfica, apenas mais um meio de comunicar um produto nas exigências industrias e mercantis contemporâneas.

A terceira trata o design como uma área independente das restantes que se presta consoante leis próprias de um grupo de trabalho ou de um designer líder . Esta é quanto a mim (ainda hoje) a que de facto consegue englobar as duas mais valias das outras: ser uma área independente mas ser também uma área que serve e está consciente do impacto que pode ter na sociedade, com melhores e mais discutidos códigos éticos e estéticos. Pois vejamos.

A primeira peca pelo excessivo peso da individualidade e do virtuosismo que desvalorizam a área tornando-a em algo acessório e pouco consciente, numa luta pela sobrevivência sem capacidade de se impor perante a sociedade. É um design sem preocupações que não as de mérito próprio e que ainda que altruísta e crítico é facilmente absorvido e descontextualizado correndo o risco de se tornar em algo meramente estético e desprovido de verdadeira utilidade.

A segunda pecava por quase anular o design enquanto área ciente da causa efeito do seu trabalho à medida que a vai tornando na base das suas categorias (publicidade, marketing, fotografia, editorial, gestão de marca) perdendo uma noção de todo e tornando-a em algo subserviente, demasiado focado na função e algo acrítico.

Já a terceira consegue impor maior peso na área e na sociedade conseguindo ser mais autónoma criativamente, financeiramente e empresarialmente. Enquanto grupo de trabalho pode incorporar com maior facilidade diversos ramos especializados da área, maior capacidade autocrítica, melhor gestão de tarefas organizadas de acordo com as exigências profissionais da área.

É verdade, como é referido acima, que uma firma nem sempre é um grupo que funciona como tal enaltecendo um nome invés de uma ideia ou identidade mais ou menos partilhada pelos diversos membros, ou que, mesmo neste sistema povoarão fragilidades apontadas nos dois restantes como apatia crítica, subserviência, ou precariedade.

Ainda assim um grupo de designers será á partida mais independente financeiramente que um indivíduo ao mesmo tempo que é mais eficaz na criação de uma sentido de área, e na distribuição das diferentes tarefas salvaguardando os interesses dos seus membros. A crítica idealmente serviria de motor identitário ao grupo um pouca a semelhança das discussões estéticas nos cafés de Paris no século das primeiras vanguardas.

Assim, numa perspectiva optimista, poderia existir uma melhor noção do que as áreas do design e consequentes "parentes" podem oferecer a sociedade, e criar-se um ambiente melhor articulado e mais rico em criação, comunicação e crítica.

(Texto original na altura abreviado para a aula de Crítica de Design leccionada pelo professor Mario Moura)

Crítica de Design, 2012-13, Fac. Belas Artes, U. Porto 17 Janeiro 2013