25.3.14

Sobre rótulos e não-rótulos

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(…) In recent decades, Graphic Design has become associated foremost with commerce, becoming virtually synonymous with corporate identity and advertising, while its role in more intellectual pursuits is increasingly marginalized. (…)

On the other hand, in line with the ubiquitous fragmentation of post-industrial society into ever-smaller coteries there exists an international scene of Graphic Designers who typically make work independent of the traditional external commission, in self-directed or collaborative projects with colleagues in neighbouring disciplines. (…) As these two aspects of Graphic Design — the overtly commercial and the overtly marginal — grow increasingly distinct, this schizophrenia renders the term increasingly vague and useless. At best, this implies that the term ought always to be distinctly qualified by the context of its use.”


Eu não uso o termo “não-design” como uma bandeira pela qual vou lutar, contra tudo aquilo a que se chama “design”. Usei-o naquele texto para falar de um contexto específico: o de um ensino onde paira no ar a ideia de que para se estar a fazer design, tem de se estar a lidar com clientes, produtos, encomendas, mercados, etc.

Não me interessa muito discutir pelo direito de usar o termo “design” para definir aquilo que faço. Se me deixarem dizer que é design, eu digo que é design, tudo ok. Mas se num determinado contexto me disserem que não é, eu sinceramente não fico muito preocupado e então prefiro chamar-lhe “não-design” e passar mais tempo a trabalhar do que a tentar convencer pessoas de que o que estou a fazer é design. Portanto não é uma questão de mudar a placa na porta do escritório, é precisamente o contrário: não querer saber da placa e concentrar-se mais no que se faz dentro do escritório.

E dizer que é “não-design” é diferente de dizer que “não é design” e dar-lhe um outro nome qualquer. “Não-coisa” e “coisa” não são conceitos que se excluem e se mantêm divididos e afastados como se fossem duas coisas distintas. Eles mantêm uma relação próxima cujos limites não estão muito bem definidos, seja essa coisa o que for. A primeira vez que vi ser usada uma expressão semelhante acho que foi num livro de ficção de um escritor africano (já não me lembro ao certo quem), onde uma personagem falava de “histórias não-histórias” ou algo do género. Se bem me lembro, eram histórias que podiam não ser bem histórias, que estavam ali a deambular numa fronteira entre o serem e o não serem histórias. Mas que se não fossem, ainda assim, seria mais adequado chamar-lhes “não-histórias” do que outra coisa qualquer que as afastasse demasiado do conceito de “histórias”.

Neste caso, “não-design” é uma expressão que está sempre pronta a deixar cair o “não” quando o quiserem fazer cair mas que o mantém quando quer evitar discussões irrelevantes sobre rótulos e não-rótulos. Ou seja, que pode a qualquer momento ser “design” mas que não está obcecada com isso.