26.3.13

Do Estado-nação ao Estado-empresa às empresas-Estado

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Um dos exemplos que mais recentemente me chamou a atenção para a maneira como as empresas têm vindo a invadir a esfera pública é o das expedições de aventura.

Se estavamos habituados a que homens e mulheres explorassem os limites do mundo e os seus próprios em nome da sua nação (e do ideal coletivo que está/estaria/estava/já não está subjacente à ideia de nação), hoje vemos que as cores envergadas são muitas vezes outras.
Poderá ser um pormenor, tal como a penetração das empresas no campo das atividades culturais, desportivas ou mesmo no espaço público em si, patrocinando/comprando lugares físicos, com a respetiva alteração da imagem do lugar ou evento de maneira a acomodar a imagem da empresa patrocinadora/dona.
Talvez apenas pormenores, mas que no seu conjunto me parecem ter implicações mais profundas do que as alterações de imagem ou toponímia são apenas indicadores.

O próprio Estado foi-se aproximando da comunicação empresarial criando logótipos para os seus organismos e inventando oxímoros como “loja do cidadão”, um caso claro de “doublespeak” orwelliano.

E onde nos levará isto?
Por falar em Orwell, será que hoje ele escreveria não sobre um mundo dividido em Estados mas em empresas que lutam pelo controlo regional de consumidores?
E se as empresas, que já compram eventos, clubes de futebol e lugares geográficos comprassem lugares geográficos maiores, comprassem/resgatassem países inteiros?
E se Portugal fosse adquirido, suponhamos, pela “Vodafone”? Mudaríamos a bandeira para a da empresa, passaríamos a usar uma só companhia de telecomunicações (estatal), ser-nos-iam dadas quotas de ações da empresa em função dos impostos que pagássemos e disto dependeria o nosso poder eleitoral para decidir quem seria o Presidente da República/CEO da empresa?... seria então mais fácil de perceber que, como já hoje, não vivemos a vida, consumimos vida?

Que admirável mundo novo!